"Yoga também significa agir de maneira que toda a nossa atenção esteja dirigida à atividade que estamos desenvolvendo no momento" - T.K.V. Desikachar em "O Coração do Yoga" (1995).
A situação contemporânea força com que a pessoa seja (aparentemente) capaz de executar diversas tarefas ao mesmo tempo, algo já dicionarizado como multitarefas. Aqui, há um corpo-máquina e uma mente-sistema operacional. O risco de naturalizarmos isso é, entre outros, mas talvez principalmente, estarmos ausentes da própria existência, com a frequente sensação de estar perdendo algo - dentro e fora de nós mesmos. Como efeito, temos realidades marcadas pela necessidade de melhora de performance em todos os âmbitos da vida. O corpo-máquina e a mente-sistema operacional de que dispomos hoje se mostram incompatíveis com a expectativa das performances. Como solução, muitas pessoas acabam sucumbindo ao esgotamento de si e/ou ao uso, à revelia, de substâncias que auxiliem na manutenção do seu próprio status de sujeito-robô. Outros procuram auxílio na Medicina, particularmente na Psiquiatria. Costuma-se acreditar que nós, médicos psiquiatras, temos o poder de auxiliar a pessoa a reforçar, através dos medicamentos ou técnicas comportamentais, seu desempenho no trabalho, em casa, na cama e no sono. E esse é um perigo importante na nossa prática hoje - não identificar os fatores sociais (macro e micro) e contribuir para a permanência de um status quo onde poucos são favorecidos. Isso, ao meu ver, seriaa iatrogênico. Não significa que não devemos tratar os sofrimentos caracterizados por transtornos psíquicos de que a pessoa padece. Mas pode apontar na direção de uma coletividade em sofrimento e auxílio de uma visão crítica do próprio modo de operar em sociedade. O que podemos oferecer, além da prática psiquiátrica tradicional, é um darsána - em sânscrito, significa algo como "ponto de vista, um certo modo de ver" que é o de praticar um dos significados do Yoga: criar um estado em que estejamos sempre presentes em todas ações, pensamentos e palavras. A vantagem de aplicarmos isso à materialidade é que realizamos melhor cada papel que desempenhamos sem perder de fato o contato com a própria existência. Tal efeito é benéfico, mas não é o objetivo - que é estar mais conectado com o aspecto real de si, o todo. Dirigir a nossa atenção a uma atividade de modo que estejamos sempre presentes pode ser encarado como um desafio ou como algo simples. Acredito que muito da nossa dinâmica social dificulte, mas estar ~atento à atenção~ pode ser mais simples do que podemos supor.
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